O que são astrocitomas?

Os astrocitomas são um tipo de glioma, ou seja, tumores primários que se originam no próprio Sistema Nervoso Central (SNC). Esses tumores surgem a partir dos astrócitos, células que fazem parte do tecido de sustentação e proteção do cérebro.

Os astrocitomas podem ser classificados em dois grandes grupos:

  • Astrocitomas circunscritos: como o astrocitoma pilocítico, geralmente de baixo grau e bem delimitado (discutido previamente).
  • Astrocitomas difusos: são infiltrativos, ou seja, misturam-se ao tecido cerebral normal. Este é o foco do nosso texto de hoje.

 

Como classificar os astrocitomas difusos IDH-mutados

Nos últimos anos, o avanço das análises genéticas e moleculares permitiu uma melhor classificação desses tumores. Um dos marcadores mais importantes é a presença da mutação no gene IDH (isocitrato desidrogenase).

Os astrocitomas difusos IDH-mutados:

  • Apresentam mutação no IDH (pesquisada por imuno-histoquímica, PCR ou sequenciamente genético).
  • Não possuem a codeleção dos cromossomos 1p/19q, o que os diferencia dos oligodendrogliomas.
  • São classificados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em:
    • Grau 2 (baixo grau)
    • Grau 3 (anaplásico, alto grau)
    • Grau 4 (alto grau; antigamente denominado glioblastoma e atualmente denominado: astrocitoma IDH mutado, grau 4)

 

Faixa etária e localização

Esses tumores são mais frequentes em adultos jovens e de meia-idade, com discreta predominância no sexo masculino. As localizações mais comuns incluem os lobos frontal e temporal, mas podem surgir em qualquer região do cérebro.

 

Por que a análise genética/molecular é importante?

A identificação da mutação no IDH e de outros marcadores moleculares é essencial para definir o tipo de tumor, estabelecer o prognóstico, guiar as estratégias de tratamento e avaliar a possibilidade de terapias-alvo específicas.

Tumores IDH-mutados, de forma geral, apresentam melhor prognóstico em comparação com aqueles sem essa mutação (IDH selvagem).

 

Quais os sinais e sintomas?

Alguns pacientes podem estar assintomáticos, sendo o glioma um achado incidental em exames de imagem. Quando presentes, os sintomas variam conforme a localização e o tamanho do tumor, podendo incluir:

  • Crises epilépticas (o principal sintoma e muitas vezes o primeiro a se manifestar)
  • Dores de cabeça
  • Déficits neurológicos (fraqueza, dificuldade de fala, alterações visuais)
  • Alterações comportamentais ou cognitivas

 

Como é o tratamento?

O tratamento é individualizado, levando em conta a localização e a extensão da lesão, idade, estado clínico do paciente e perfil molecular (para tratamentos adjuvantes – após a cirurgia). As opções incluem:

  • Cirurgia: Realizada com o objetivo de remoção máxima e segura do tumor. A extensão da ressecção é um dos principais fatores prognósticos.
  • Radioterapia
    Indicada em situações específicas após a cirurgia, especialmente após a cirurgia incompleta (ressecção subtotal), tumores de alto grau e pacientes de maior risco. Essa decisão é complexa e deve ser tomada após discussão multidisciplinar.
  • Quimioterapia
    Assim como a radioterapia, é indicada em situações específicas após a cirurgia. Pode ser via oral ou endovenosa.
  • Terapias-alvo
    Com os avanços no conhecimento molecular, surgiram opções terapêuticas direcionadas contra a mutação IDH, como o Vorasidenib — recentemente aprovado pelo FDA (agência regulatória dos Estados Unidos). Além disso, estudos clínicos com outros inibidores de IDH estão em andamento. Os resultados preliminares são promissores, e há grande expectativa para que essas terapias estejam disponíveis em nosso arsenal clínico em breve.

 

Quais as ferramentas auxiliares na cirurgia?

A neurocirurgia oncológica moderna conta com recursos que aumentam a segurança e eficácia do procedimento, como:

  • Neuronavegação: auxilia na localização lesional.
  • Monitorização neurofisiológica intraoperatória: preserva funções motoras e de linguagem.
  • Cirurgia com paciente acordado (awake surgery): permite testar funções cerebrais durante a ressecção, especialmente relacionadas a linguagem.
  • Ultrassom intraoperatório: avalia a extensão da ressecção em tempo real.
  • Ressonância magnética intraoperatória: auxilia na avaliação da extensão da ressecção cirúrgica, permitindo, se necessário, o retorno imediato à sala cirúrgica para ressecções adicionais.

 

Qual o prognóstico?

O prognóstico depende de fatores como: grau do tumor, idade do paciente, extensão da ressecção cirúrgica, perfil molecular.

De forma geral:

  • Tumores IDH-mutados tendem a ter uma sobrevida maior e um curso mais lento.
  • Mesmo após o tratamento inicial, há risco de recorrência.
  • O acompanhamento deve ser contínuo e multidisciplinar, envolvendo neurocirurgião, oncologista, radio-oncologista e equipe de suporte.

 

Devo tratar um astrocitoma difuso, provável por imagem, diagnosticado incidentalmente em paciente assintomático?

A resposta é sim. Estudos demonstram que, mesmo em casos assintomáticos, os pacientes se beneficiam de uma ressecção precoce e segura, considerando o impacto positivo na sobrevida global e no controle da progressão tumoral

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