O que são astrocitomas pilocíticos?

Os astrocitomas pilocíticos são gliomas circunscritos de baixo grau, considerados tumores primários do Sistema Nervoso Central. Como todo glioma, eles se originam das células da glia, mais especificamente dos astrócitos.

Recebem esse nome devido à sua histologia característica: as células tumorais apresentam prolongamentos finos e alongados, semelhantes a “pelos” (pilocítico = “parecido com pelo” em grego).

 

Faixa etária e localização

É o glioma mais comum em crianças e adolescentes, sendo mais raro em adultos. As localizações mais frequentes incluem:

  • Cerebelo (forma mais comum na infância)
  • Vias ópticas e hipotálamo
  • Tronco encefálico
  • Medula espinhal

 

Como os astrocitomas pilocíticos são classificados?

Desde a Classificação da OMS de 2021, os astrocitomas pilocíticos são classificados como gliomas circunscritos de grau 1 — ou seja, baixo grau, com crescimento lento e comportamento menos agressivo. Vale lembrar que a classificação vai de grau 1 a 4, sendo o grau 4 o mais avançado.

Além da histologia, o perfil molecular tornou-se essencial no diagnóstico. Muitos desses tumores apresentam alterações envolvendo o gene BRAF, mais frequentemente a fusão KIAA1549-BRAF ou, em menor proporção, a mutação BRAF V600E.  Esses dados moleculares são importantes para:

  • Confirmar o diagnóstico
  • Auxiliar no prognóstico
  • Indicar possíveis terapias-alvo em casos não ressecáveis ou recorrentes.

 

Quais os sinais e sintomas dos astrocitomas pilocíticos?

Os sintomas variam conforme a localização e o tamanho do tumor:

  • Cerebelo: dificuldade na coordenação motora, alterações no equilíbrio, tontura, náuseas, vômitos e alteração da marcha. Esses tumores podem também levar à obstrução da circulação do líquor, resultando em hidrocefalia, com consequente aumento da pressão intracraniana e sintomas como dor de cabeça, náuseas, vômitos e sonolência.
  • Vias ópticas: diminuição da acuidade visual, perda de campo visual, estrabismo.
  • Tronco encefálico: alterações de força, dificuldade para deglutição, alteração de consciência.
  • Medula espinhal: dor, fraqueza, alterações sensitivas, alterações esfincterianas.

Podem apresentar sintomas insidiosos e progressivos, ou surgir de forma mais abrupta se houver hidrocefalia associada.

 

Qual o tratamento para astrocitomas pilocíticos?

O tratamento depende da localização, extensão do tumor, idade do paciente e status clínico. As opções incluem:

  • Cirurgia:
    A cirurgia é o tratamento de escolha sempre que possível. Quanto maior a ressecção, melhores tendem a ser os resultados. Na maioria dos casos, a ressecção completa é curativa, considerando a natureza benigna e bem delimitada desses tumores. Atualmente, contamos com técnicas menos invasivas, maior precisão tecnológica e monitorização neurofisiológica intraoperatória, com o objetivo de preservar a função neurológica do paciente. Quando há hidrocefalia associada, pode ser necessário tratá-la com a implantação de válvula ou por meio de endoscopia ventricular
  • Radioterapia:
    Atualmente é menos utilizada, reservada para casos em que a cirurgia não é viável ou em recidivas. Evita-se seu uso principalmente em crianças pequenas.
  • Quimioterapia:
    Pode ser indicada para tumores inoperáveis ou em progressão, especialmente em crianças.
  • Terapias-alvo:
    Casos com mutação BRAF V600E ou fusão KIAA1549-BRAF podem se beneficiar de inibidores de BRAF ou da via MAPK. Esses tratamentos ainda estão sendo melhor investigados, mas têm mostrado boa resposta em casos selecionados.

 

Qual o prognóstico?

O prognóstico dos astrocitomas pilocíticos é, em geral, muito favorável, especialmente quando é possível realizar a ressecção completa do tumor. Como são gliomas de baixo grau e de crescimento lento, a maioria dos pacientes apresenta excelente sobrevida a longo prazo.

Nosso objetivo no tratamento desses tumores vai além de controlar a doença — buscamos preservar a qualidade de vida, reduzir os efeitos adversos dos tratamentos e garantir que o paciente tenha uma vida longa, ativa e com o mínimo de limitações. Para isso, é fundamental o acompanhamento multidisciplinar, envolvendo neurocirurgiões, neurologistas, oncologistas, radiologistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos e outros profissionais, de acordo com a necessidade de cada caso.

Esse cuidado integrado permite não apenas otimizar os resultados do tratamento, mas também minimizar complicações, tratar sintomas associados e apoiar o paciente e a família em todas as etapas do cuidado.

 

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