Por muitos anos, o tratamento dos tumores cerebrais envolveu basicamente cirurgia, radioterapia e quimioterapia. Recentemente, um estudo internacional trouxe uma novidade que mudou esse cenário: um medicamento oral capaz de controlar certos tumores cerebrais e adiar tratamentos mais agressivos. Esse medicamento se chama vorasidenib — e já está aprovado pela ANVISA no Brasil.
O que é o Vorasidenib?
O vorasidenib é um medicamento em comprimido, de uso oral e contínuo, indicado para tratar um tipo específico de tumor cerebral chamado glioma difuso de baixo grau (astrocitomas e oligodendrogliomas), comum em pacientes mais jovens e frequentemente diagnosticados após crises convulsivas.
Ele atua em tumores que apresentam uma alteração genética conhecida como mutação do gene IDH (IDH1 ou IDH2). Essas mutações levam à produção do oncometabólico 2-hidroxiglutarato, que interfere na diferenciação celular e favorece o crescimento tumoral. O vorasidenib bloqueia esse mecanismo de forma específica, atuando na base molecular da doença.
O que mostrou o estudo INDIGO?
O principal estudo sobre o vorasidenib, chamado INDIGO Trial, avaliou pacientes adultos que: (a) tinham glioma de baixo grau; (b) já haviam sido operados; (c) ainda não tinham indicação imediata de radioterapia ou quimioterapia.
Os resultados mostraram que o vorasidenib:
- Aumentou significativamente o tempo de sem crescimento do tumor;
- Atrasou a necessidade de radioterapia e quimioterapia;
- Apresentou boa tolerância, com efeitos colaterais, em geral, leves a moderados.
Para quem o Vorasidenib é indicado?
De forma simplificada, o Vorasidenib pode ser indicado para pacientes:
- Com glioma difuso de baixo grau (grau 2);
- Com mutação IDH1 ou IDH2 confirmada no exame do tumor;
- Que já passaram por cirurgia;
- E que ainda não precisam de radioterapia ou quimioterapia imediatas.
Nem todo tumor cerebral se beneficia desse tratamento. Por isso, o exame molecular do tumor e a avaliação especializada são fundamentais.
Situação regulatória no Brasil
O vorasidenib, comercializado com o nome Voranigo®, foi oficialmente aprovado pela ANVISA, permitindo sua comercialização no Brasil.
O registro foi publicado no Diário Oficial da União em 11 de agosto de 2025, contemplando a indicação para astrocitoma ou oligodendroglioma de grau 2 com mutação IDH1 ou IDH2, em pacientes adultos e adolescentes a partir de 12 anos, após cirurgia e sem necessidade imediata de radioterapia ou quimioterapia.
Essa aprovação representa um marco importante, pois se trata do primeiro medicamento oral direcionado à biologia do tumor aprovado no país para esse tipo de glioma.
O que essa novidade muda para os pacientes?
A aprovação do Vorasidenib inaugura uma nova fase no tratamento dos tumores cerebrais, com:
- Terapia personalizada, baseada na genética do tumor;
- Possibilidade de adiar tratamentos mais agressivos;
- Maior foco em qualidade de vida.
Em resumo
O Vorasidenib não é uma cura milagrosa, mas é um avanço científico concreto, baseado em estudos de alta qualidade. Ele mostra que o futuro do tratamento dos tumores cerebrais passa por abordagens mais específicas, menos invasivas e orientadas pela biologia do tumor.
Se você ou um familiar tem diagnóstico de glioma, converse com seu neurocirurgião ou neuro-oncologista sobre a importância do exame molecular e sobre as novas opções de tratamento disponíveis no Brasil.
Referência:
Mellinghoff IK, van den Bent MJ, Blumenthal DT, Touat M, Peters KB, Clarke J, et al. Vorasidenib in IDH1- or IDH2-mutant low-grade glioma (INDIGO Trial). New England Journal of Medicine, 2023.


